A medida de todas as coisas...
Eu sou professor.
Queria se gigolô, mas engordei demais e ficou difícil!
No meu cartão de visitas coloquei a definição que aquele moço que luta judô, o Aurélio Miguel, colocou no seu dicionário: “(s.m.) aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina”... a única parte que é sempre verdade é esse tal de “s.m.”, só não sei direito se significa “sado-masoquista” ou “sujeito maluco”, mas em qualquer caso é verdade!
Ser professor não é complicado, mas “professar” e “ensinar” é dureza... às vezes se parece com a vontade de querer que porco use sapato ou vaca toque piano!
E não importa em qual nível de ensino, o professor sempre ocupa e aquela posição a qual gente que diz que existe neurose, psicose e outros tipos de micoses chamam de posição paterna no Complexo de Édipo do aluno – e isso só porque o tio / professor / mestre se torna objeto de rancor / ódio / desprezo e nem tá comendo a mãe de quem quer que seja!!! – ao mesmo tempo em que descobre duas terríveis verdades: todo aluno é criança, e “criança é como pum... só quem faz suporta!”
A parte da “ciência”, “arte”, “técnica” e “disciplina” então é aquilo que os chineses narravam no Mito de Si-Sifú: “si vc escolheu tentar isso, você si fudeu!” Com o tempo, a ciência é só aquilo que o professor acha que sabe e que vale muito mais pra ele do que pros alunos, a grande a arte é não matar de tédio e não morrer de tédio, a técnica é fingir acreditar que ensina, que os alunos aprendem algo e que o que se recebe é salário! E a disciplina? Bem, desde que ninguém saia pro corredor ou pátio e não façam publicamente coisas que assustariam os animais e despertariam a curiosidade dos passantes, isso é como as almas de outro mundo do Padre Quevedo: “nom exsiste”!
Mas se cada um tem sua cruz, a Via Crucis pode ser bem diferente... dar aulas é suportar um que dorme, outro que observa gnomos pela janela, aquele que é SEDEX 10 (a aula começa às sete e meia, mas ele se contenta em chegar antes das dez), uma que queria fazer cabelereira, pedicure e manicure no SENAC mas entrou na sua sala por engano (fica arrancando ponta de fio de cabelo, lixando a unha ou fazendo trança na amiga), outra que deve colocar anúncio oferecendo alguma coisa em classificado de jornal todo dia da semana (o celular toca o tempo todo, ela levanta, atende e sai, nem sempre nessa ordem) e aquela que não precisa daquilo pois deve ser milionária (ri o tempo todo e só rico ri à toa!), entre alguns e algumas que realmente querem aprender...
Logicamente existem vantagens. Ao contrário de médicos, juízes e fiscais da receita, que tem que conviver com gente agonizando, bandidos e facínoras, e ricos sonegadores (embora recebam ganhos diversas vezes maiores do que um professor de qualquer nível de ensino para isso), a docência permite o convívio com pessoas que normalmente estão no auge de sua beleza, saúde e alegria (embora em alguns lugares os alunos, como a média do brasileiro, não são bonitos, nem saudáveis e muito menos alegres!) e que expressam esse apogeu de maneira afetuosa (recentes acontecimentos nos quais alguns alunos queimaram o carro de uma diretora, outros colaram uma professora em uma cadeira em sala de aula, ou ainda, uma aluna incendiou o cabelo de uma professora, fatos que ganharam a mídia em um mesmo mês
O importante é que o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever!
P.S. 1: Na rede pública de ensino
P.S. 2: Em artigo na Folha de São Paulo do dia 29 de julho o articulista Gilberto Dimenstein informou que a Livraria Cultura chega a pagar R$ 4.500,00 de salário (além de oferecer benefícios como o vale-refeição, convênio hospitalar e desconto na compra de livros) para um vendedor – o professor do ensino médio na rede pública de ensino tem vencimentos de cerca de 30% desse valor (e sem os mesmos benefícios). Porque será que especialistas estão prevendo a diminuição do interesse de universitários em fazerem cursos de licenciatura ao mesmo tempo em que ocorre uma proletarização do professorado?