Mi Ojo Viejo

Mentiras lindas em palavras lindas, preparadas no calor da hora, temperadas com idéias rápidas para se saborear sem pressa...

11.9.07

Momento literário... toda vez que acho algo escrito de que gosto sou invadido por um sentimento de gratidão pelo autor me permitir compartilhar com ele aquele conjunto de sentimentos e pensamentos, ao mesmo tempo em que me pergunto como ele (o autor) foi capaz de traduzir tão bem algo que, para mim, se perderia na palavras... que os deuses me permitam sentir isso sempre e mais!




"Amigo é quem, conhecido ou não, vivo ou morto, nos faz pensar, agir ou se
comportar no melhor de nós mesmos. É quem potencializa esse material. Não
digo que laboremos sempre no pior de nós mesmos (algumas pessoas, sim) mas
nem sempre podemos ser integrais para operar no melhor de nós. Há que contar
com algum elemento propiciador, uma afinidade, empatia, amor, um pouco de
tudo isso. E sempre que agimos no melhor de nós mesmos, melhoramos, é a mais
terapêutica das atitudes, a mais catártica e a mais recompensadora. Esta é a
verdadeira amizade, a que transcende os encontros, os conhecimentos, o
passado em comum, aventuras da juventude vividas junto. Um escritor ou
compositor morto há mais de cem anos pode ser o seu maior amigo.
Esse conceito de amizade, transcende aquele outro mais comum: a de que amigo
é alguém com quem temos afinidade, alguma forma de amor não sexual, alguém
com quem podemos contar no infortúnio, na tristeza, pobreza, doença ou
desconsolo. Claro que isso é também amizade, mas o sentido profundo desse
sentimento desafiador chamado amizade é proveniente de pessoas, conhecidas
ou não, distantes ou próximas, que nos levam ao melhor de nós. E o que é o
melhor de nós? É algo que todos temos, em estado latente ou patente,
desenvolvido ou atrofiado. Mas temos. E certas pessoas conseguem o milagre
de potencializar esse melhor. Sentimo-nos, então, fundamente gratos e de
certa maneira orgulhosos (no bom sentido da palavra) por poder exercitar o
que temos de melhor. Este melhor de nós contém sentimentos, palavras,
talentos guardados, bondades exercidas ou não.
Amar, ao contrário do que se pensa, não perturba a visão que se tem do
outro. Ao contrário, aguça-a, aprofunda-a, aprimora-a. Faz-nos ver melhor.
Também assim é a amizade, forma de especial de amor, capaz de ampliar a
lucidez e os modos generosos e compreensivos de ver, sentir, perceber o
outro e sobretudo -se possível- potencializar os seus melhores ângulos e
sentimentos.
Somos todos seres carentes de ser vistos e considerados pelo melhor de nós.
A trivialidade, a superficialidade, as disputas inconscientes, a inveja, a
onipotência, a doença da auto-referência faz a maioria das pessoas
transformar-se em vítimas do próprio olhar restritivo. E o olhar restritivo
é sempre fruto da projeção que fazem (fazemos) nos demais, de problemas e
partes que são nossas e não queremos ver. E quantas vezes isso acontece
entre pessoas que se dizem amigas. Essas pessoas (que se dizem amigas),
ignoram certas descobertas do velho Dr. Freud e através de chistes passam o
tempo a gozar o “amigo”, alardeando intimidade (onde às vezes há inveja)
como prova de amizade. O que não é. Mesmo quando é...
Se se quiser medir o tamanho de uma amizade, meça-se a capacidade de
perceber, sentir e potencializar o melhor do outro, porque somente essa
atitude fará dele uma pessoa cada vez melhor e por isso merecedora da
amizade que se lhe dedica." (Artur da Távola, Quem é amigo?)