Mi Ojo Viejo

Mentiras lindas em palavras lindas, preparadas no calor da hora, temperadas com idéias rápidas para se saborear sem pressa...

17.1.09



PÓS-GRADUAÇÃO MENDINCANTE.


A NOTÍCIA.

O senador João Tenório (PSDB-AL) criou projeto de lei que propõe a criação de um crédito educativo para bolsas de pós-graduação (mestrado e doutorado). A medida substituiria em parte o atual sistema de bolsas de estudos concedidas a alunos de mestrado e doutorado.
O Senadorlembra que são aplicados recursos públicos para a manutenção de vagas gratuitas e para a concessão de bolsas a fundo perdido para estudantes que muitas vezes delas não precisam, e diz que, em muitos casos, esses estudantes deixam o país após a conclusão do curso ou põem seu trabalho a serviço da iniciativa privada, sem retorno direto para a sociedade.
O parlamentar considera imprescindível, porém, que haja políticas de investimento na formação científica e no aperfeiçoamento do pessoal de nível superior, em prol do "desenvolvimento tecnológico", do "crescimento da produtividade", e da "soberania nacional".
Segundo o texto proposto por João Tenório, o financiamento poderá ser usado por alunos classificados em cursos de mestrado ou doutorado credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), em instituições públicas ou privadas.
O crédito será concedido por até três anos para mestrado e quatro anos para doutorado e o valor deve corresponder a, no máximo, dois terços da anuidade média cobrada por instituições privadas do Brasil.

EXPLICANDO A NOTÍCIA.

O que parece:

Senador preocupado com os grandes dilemas da educação brasileira, dessa vez no ensino de pós-graduação, proõe que o governo financie mestrado e doutorado nos mesmos moldes do crédito educativo, em nome dos mais altos valores cívicos e democráticos.

O que é:

A tentativa de se criar mais uma fonte de recursos para empresas privadas de ensino superior após as medidas governamentais que permitiram o crescimento quantitativo de cursos nessas instituições de forma totalmente irresponsável no governo FHC (o que, por outro lado, criou uma competição violenta entre as empresas do ramo e uma crescente diminuição de receitas, em um processo de destruição mútua), e levaram ao surgimento de programas de financimaneto pelo governo LULA de alunos nessas instituições (ampliando o número de vagas no ensino superior através da generosa injeção de recursos públicos em empresas privadas de educação).
A pós-graduação só tem sentido, para o bem do país, quando garantidas as condições de excelência no ensino e na pesquisa, o que tem sido praticamente monopólio de instituições públicas... e mesmo as privadas que obtiveram grau de excelência contam com o apoio de bolsas de pesquisa de agências de fomento.

Portanto, não é necessário uma nova "esmola" para garantir a manutenção da excelência da pós-graduação, sendo suficiente a ampliação do número de bolsas (disputadas por individuos selecionados a partir de critérios acadêmicos e não sociais) e o fortalecimento dos cursos de graduação para que ofereçam concluintes habilitados para o desafio da pós-graduação.

Parece que governos e governantes acreditam que é melhor que seus cidadãos deles dependam e que esses precisam muito mais de doações doque de incentivos, mais de ajuda do que de oportunidades e mais de facilidades do que de dignidade, e assim busca-se "dar esmolas" como uma solução mágica em tempos de populismos e demaggogias diversas.
Mas como disse o Rei do Baião: "Uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão..."