Mi Ojo Viejo

Mentiras lindas em palavras lindas, preparadas no calor da hora, temperadas com idéias rápidas para se saborear sem pressa...

3.8.07


A medida de todas as coisas...

Eu sou professor.

Queria se gigolô, mas engordei demais e ficou difícil!

No meu cartão de visitas coloquei a definição que aquele moço que luta judô, o Aurélio Miguel, colocou no seu dicionário: “(s.m.) aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina”... a única parte que é sempre verdade é esse tal de “s.m.”, só não sei direito se significa “sado-masoquista” ou “sujeito maluco”, mas em qualquer caso é verdade!

Ser professor não é complicado, mas “professar” e “ensinar” é dureza... às vezes se parece com a vontade de querer que porco use sapato ou vaca toque piano!

E não importa em qual nível de ensino, o professor sempre ocupa e aquela posição a qual gente que diz que existe neurose, psicose e outros tipos de micoses chamam de posição paterna no Complexo de Édipo do aluno – e isso só porque o tio / professor / mestre se torna objeto de rancor / ódio / desprezo e nem tá comendo a mãe de quem quer que seja!!! – ao mesmo tempo em que descobre duas terríveis verdades: todo aluno é criança, e “criança é como pum... só quem faz suporta!”

A parte da “ciência”, “arte”, “técnica” e “disciplina” então é aquilo que os chineses narravam no Mito de Si-Sifú: “si vc escolheu tentar isso, você si fudeu!” Com o tempo, a ciência é só aquilo que o professor acha que sabe e que vale muito mais pra ele do que pros alunos, a grande a arte é não matar de tédio e não morrer de tédio, a técnica é fingir acreditar que ensina, que os alunos aprendem algo e que o que se recebe é salário! E a disciplina? Bem, desde que ninguém saia pro corredor ou pátio e não façam publicamente coisas que assustariam os animais e despertariam a curiosidade dos passantes, isso é como as almas de outro mundo do Padre Quevedo: “nom exsiste”!

Mas se cada um tem sua cruz, a Via Crucis pode ser bem diferente... dar aulas é suportar um que dorme, outro que observa gnomos pela janela, aquele que é SEDEX 10 (a aula começa às sete e meia, mas ele se contenta em chegar antes das dez), uma que queria fazer cabelereira, pedicure e manicure no SENAC mas entrou na sua sala por engano (fica arrancando ponta de fio de cabelo, lixando a unha ou fazendo trança na amiga), outra que deve colocar anúncio oferecendo alguma coisa em classificado de jornal todo dia da semana (o celular toca o tempo todo, ela levanta, atende e sai, nem sempre nessa ordem) e aquela que não precisa daquilo pois deve ser milionária (ri o tempo todo e só rico ri à toa!), entre alguns e algumas que realmente querem aprender...

Logicamente existem vantagens. Ao contrário de médicos, juízes e fiscais da receita, que tem que conviver com gente agonizando, bandidos e facínoras, e ricos sonegadores (embora recebam ganhos diversas vezes maiores do que um professor de qualquer nível de ensino para isso), a docência permite o convívio com pessoas que normalmente estão no auge de sua beleza, saúde e alegria (embora em alguns lugares os alunos, como a média do brasileiro, não são bonitos, nem saudáveis e muito menos alegres!) e que expressam esse apogeu de maneira afetuosa (recentes acontecimentos nos quais alguns alunos queimaram o carro de uma diretora, outros colaram uma professora em uma cadeira em sala de aula, ou ainda, uma aluna incendiou o cabelo de uma professora, fatos que ganharam a mídia em um mesmo mês em São Paulo, são exceções – embora muitos achem que caminham para fazem parte da regra!).

O importante é que o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever!

P.S. 1: Na rede pública de ensino em São Paulo existe um termo para classificar professores que por diversas razões são afastados das salas de aula, “re-adaptados”... uma pergunta interessante: de que forma a quantidade de professores está aumentando nos últimos anos?

P.S. 2: Em artigo na Folha de São Paulo do dia 29 de julho o articulista Gilberto Dimenstein informou que a Livraria Cultura chega a pagar R$ 4.500,00 de salário (além de oferecer benefícios como o vale-refeição, convênio hospitalar e desconto na compra de livros) para um vendedor – o professor do ensino médio na rede pública de ensino tem vencimentos de cerca de 30% desse valor (e sem os mesmos benefícios). Porque será que especialistas estão prevendo a diminuição do interesse de universitários em fazerem cursos de licenciatura ao mesmo tempo em que ocorre uma proletarização do professorado?

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

WIL ADOREI.
Ri e me emocionei muito. Bem a sua cara.Beijão

3:16 PM  
Blogger Sonia Sant'Anna said...

E eu, ao invés de ser escritora (é mil vezes pior que ser professor) queria ser vendedora da Natura. infelizmente ser vendedora é um dom nato, que não possuo.

11:32 AM  
Anonymous Anônimo said...

Wil, toda vez que estou desesperada a procure de uma leitura que prestae valha a pena,venho aqui. Não está nada fácil encontrar textos que nos emocionam e nos matam de rir ao mesmo tempo. Muitas vezes me enxergo em seus textos. Beijão.

5:31 PM  
Blogger Bruna O. said...

Se te serve de consolo, há também a aluna puxa-saco que tanto te admira.

2:46 PM  

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