A IGNORÃNCIA INSTÂNTANEA
As qualidades da internet que mais me agradam são a pluralidade de assuntos e a rapidez de acesso a informação - embora os estudiosos garantam que o maior fluxo de informação é dirigido aos sites de pornografia e que a ampliação de bandas e processadores criam um sentimento crescente de defasagem e lentidão...
Mas em meio a tantas possibilidades existem alguns pesadelos inevitáveis: a privacidade se reduz (na forma mais simples, qualquer um pode ser "googlado" e ter parte de sua vida exposta em qualquer lugar), o número de spams é sempre crescente (oferecendo viagra, relógios, alargadores de pênis, etc...), os hoax (aqueles boatos de que um livro norte-americano de geografia já incorporou a Amazônia aos EUA, que a MOTOROLA dará um celular de graça para as cem primeiras pessoas que enviarem uma mensagem para tal e-mail, que o filho do presidente foi fotografado fazendo isso ou aquilo, e tantos outros)e outras ameaças diversas...
No entanto o que mais me incomoda não são as ofertas de alargador peniano, a ideia de que alguém possa saber coisas de minha vida particular ou histórias fantásticas e mesmo ingênuas que circulam no limite entre o possível e o (in)desejável... o que me mais me incomoda são duas coisas: textos "mela-cueca" e o analfomegabetismo literário.
Textos "mela-cueca" são geralment enviados em arquivos de powerpoint com mensagens edificantes e fotos singelas, eventualmente com conteúdos de pseudo-sensualidade ou ambiçoes de auto-ajuda... embora o formato de pombinhas voando e flores se movendo tambem seja recorrente... a quantidade de mensagens desse tipo disponíveis (e o número de pessoas que a apreciam) é um forte indicador da forma como sobrevivem carências coletivas (porque existem duas nobres verdades sobre esse tipo de mensagem: "se você gosta de texto de auto-ajuda, você realmente está precisando de ajuda, mas profissional!" e "você é especial... todo mundo é especial... você é como todo mundo!")
Os "mela-cueca" são sintoma de gosto duvidoso e talvez de problemas psiquicos mais ou menos graves... mas o analfaomegabetismo - desconhecimento do começo ao fim - literário é sintoma de ignorância, com pitadas de preguiça e ares de pretensão.
Pessoas interessantes e interessadas, com bom nível de escolaridade, p. ex., diversas vezes colocam em mensagens, perfis e outros lugares do mundinho virtual trechos e textos com a autoria totalmente equivocada, penalizando o talento dos prestigiados autores atribuídos pelas limitações dos desconhecidos autores reais, ou pelo menos cometendo a indelicadeza de roubar méritos de quem os possui. Assim, textos "sensíveis", mas de uma pobreza franciscana em termos de criação, estilo, vocabulário, etc. são atribuídos à Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, Shakespeare, entre outros seres mitológicos do panteão literário que caem no gosto mais popular. (Os de humor, mesmo chulo e rasteiro, muitas vezes são atribuídos ao Luis Fernando Veríssimo!)
Esses equivocos refletem ignorância porque quem os cita na verdade não conhece o suficiente da obra do autor atribuído para perceber o seu próprio equivoco, preguiça porque uma pesquisa um pouco mais detida mostraria o erro de autoria atribuida, pretensão porque o objetivo de invocar esses mitos literários é querer certo pedigree de sensibilidade e cultura.
Embora digam que pretensão e água benta não fazem mal a ninguem, ignorância e preguiça causam um mal enorme, mesmo porque se autoreproduzem com grande facilidade.
1 Comments:
Nossa muito legal o blog, bastante reflexivo. Este aqui tb é interessante de uma olhadinha que vale a pena www.aulasprontasdehistoria.blogspot.com - abç...
Professor Carlos -SP
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