Mi Ojo Viejo

Mentiras lindas em palavras lindas, preparadas no calor da hora, temperadas com idéias rápidas para se saborear sem pressa...

12.10.09




“Excelentíssimo” é adjetivo valorativo e pronome de tratamento que deve ser utilizado para com os senhores e senhoras que por méritos, reais ou imaginários, ocupam o cargo de reitor de uma universidade.
A USP teve divulgada recentemente o nome de seus candidatos ao cargo de reitor e ao direito de receberem tal tratamento, em um total de 8 candidatos que ostentam o título de professor titular: Armando Corbani (pró-reitor de pós-graduação), Francisco Miraglia Instituto de matemática e Estatística), Glaucius Oliva (diretor do Instituto de Física, de São Carlos), João Grandino (diretor da Faculdade de Direito), Ruy Altafim (pró-reitor de cultura e extensão), Sonia Penin diretora da Faculdade de Educação), Sylvio Sawaya (diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e Wandreley Messias (coordenador de comunicação social da USP), segundo a Folha de São Paulo de 11de outubro.
Todos com carreiras acadêmicas consolidadas, de diferentes áreas do conhecimento, com experiência administrativa e posições muito semelhantes em relação a autonomia e a avaliação externa da instituição em relação aos mecanismos de mensuração propostos pelo governo federal (ENEM e ENADE).
Se a autonomia da universidade é uma bandeira legítima, visando supostamente resguarda-la das intromissões nem sempre positivas de poderes externos, ela não pode ser utilizada para justificar a falta de transparência sobre a gestão e condução de um patrimônio público, categoria na qual se encaixa a Universidade de São Paulo.
Que o ENEM não substitua a prova da FUVEST, não só considerado um dos melhores exames vestibulares do país como também uma instituição que tem sido exemplo de profissionalismo, parece mais do que justo. Ainda mais que os perfis de seleção de ambos os exames não são os mesmos, com objetivos de mensuração bem distintos entre eles.
No entanto, se no caso do ENEM a USP oferece uma experiência anterior já consolidada e com sucesso em seus objetivos, em relação a avaliação externa a instituição não tem nada comparável ao ENADE para apresentar como sua legitimação, e os argumentos alinhados contra a participação da universidade nesse tipo de exame são grosseiros e tendenciosos, em um arco retórico que vai do corporativismo mais rasteiro ao comodismo puro e simples.
Os méritos inegáveis da USP, na sua produção científica e importância acadêmica, não justificam rechaçar sua participação ao exame público, mesmo que o ENADE tenha limitações ou signifique riscos a manutenção da imagem idealizada da instituição.
A USP merece, pelo seu nível de excelência acadêmica, a adoção de medidas que garantam uma excelência democrática, talvez por iniciativa também de seus excelentíssimos gestores.
Afinal, se recusando a uma avaliação externa que obrigaria a instituição a ser percebida em diferentes dimensões os candidatos querem manter verdadeiro um slogan da Folha de São Paulo, na década de 80: “È possível dizer muitas mentiras falando só a verdade.”

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